Acredito que toda pessoa que trabalha como technical writer deveria ler algo sobre design instrucional em algum momento. Não é que você precise se tornar um designer instrucional: o que mais me interessa nessa interseção é entender as técnicas usadas para o ensino de adultos. Afinal, no fim das contas, é isso que estamos fazendo: ensinando adultos.
Nos meus primeiros meses como tech writer, me debrucei sobre livros e artigos que tentavam recomendar maneiras de projetar, implementar e avaliar experiências de aprendizado, na esperança de encontrar boas práticas que me ajudassem no meu trabalho. E posso dizer que foi uma busca que mudou o modo como enxergo a relação entre conteúdo e usuário.
Um dos livros que li nessa época - Design for how people learn - me fez colocar em contraste dois dos esforços diários de um tech writer: primeiro, o de ser omais claro, conciso e direto possível; segundo, o esforço de fugir ao tédio e criar atrito suficiente para tornar a experiência de aprendizado mais interativa e tirar o aluno de sua posição passiva, estimulando a carga cognitiva.
Algumas das maneiras pelas quais esse atrito pode ser criado, de acordo com o autor do livro, são:
- Conte histórias.
- Surpreenda o aluno.
- Crie interação socialMostre ao aluno “coisas que brilham”.
- Faça o aluno explicar o assunto.
Mas como fazemos qualquer uma dessas coisas sem perder a clareza ou pelo menos a objetividade que exige o conteúdo técnico? É possível contar histórias na documentação? É possível esperar que o aluno se envolva na experiência de aprendizado com uma abordagem mais ativa?
Eu acredito que sim, mas apenas até certo ponto.
Quando estamos lidando com uma sala de aula ou um livro, a lista de estratégias que podem ser aplicadas se alimenta de uma variedade de técnicas que levam em consideração o funcionamento do cérebro. Essas estratégias instruirão você a virar as abordagens de ensino convencionais de cabeça para baixo, e algumas são tão contraintuitivas que muitas vezes sou tentado a experimentá-las, ao menos por diversão.
O redator técnico, no entanto, tem um espaço de manobra mais limitado que o da sala de aula. E talvez uma das principais razões para isso seja que quase sempre lidamos com um “aluno” que não tem tempo a perder.
Nossos leitores provavelmente têm quase sempre um assunto urgente em mãos e desejam uma resposta direta que simplesmente resolva seu problema, o que dificulta o foco em memória de longo prazo, carga cognitiva e outras coisas sofisticadas. O que o leitor espera são palavras da forma e quantidade exatas para fazê-lo executar uma ação.
Isso não significa que não temos espaço para tentar levar nossos usuários a uma experiência de aprendizado mais rica. Mas deveríamos sempre considerar o efeito esperado. Se você estiver trabalhando na solução de problemas de conteúdo, busque clareza e evite experiências.
Mas se estiver criando um guia introdutório, ou quem sabe um curso, talvez encontre maneiras de inserir uma história, uma experiência prática surpreendente ou até mesmo um pouco de humor. É aí que surge espaço para ser criativo, gerar fricção e, quem sabe, trazer mais potência à experiência de aprendizagem do usuário.